Pesquise antes de aderir

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Em média, os cartões de lojas têm juros até mais altos que os de credito e ainda têm custos embutidos nem sempre informados.

 

Os cartões de marca própria (ou private labels) servem para fazer compras no estabelecimento que lhe fornece o car tão. Farmácias, supermercados e lojas de vestuário têm lançado o produto para fidelizar seus clientes. Muitos consumidores aderem ao cartão devido à “ausência’ de custo. Um outro motivo é a pouca burocracia necessária para consegui-lo. E mais um fator é a possibilidade de adiar a data do pagamento, até 40 dias em média, que acaba sendo um dos grandes atrativos para o público em geral. Como as opções só aumentam no mercado, avaliamos mais uma vez os cartões. Além de cartões de supermercados, selecionamos também cartões de lojas muito populares, como C&A, Leader e Renner.

Nosso estudo descobriu que esses produtos podem até ser vantajosos para quem não tem um cartão de crédito e não entra no rotativo, mas são perigosos para o consumidor que se ilude com economias inexistentes ou mesmo desconhece a cobrança de algumas taxas. Por isso, a PRO TESTE não vê vantagens nesses cartões.

Valem para poucos locais

Os cartões de marca própria se diferenciam dos de crédito por estarem vinculados a uma rede de lojas, ou seja, são para utilização exclusiva em determinados locais. Os cartões das lojas do Grupo Pão de Açúcar só podem ser utilizados nos estabelecimentos da rede: Compre Bem, Extra, Pão de Açúcar, Sendas ou drogarias e postos de combustível do grupo. Em contrapartida, o cartão Hipercard da rede Wal-Mart pode ser utilizado em diversos outros estabelecimentos não-concorrentes, como Tam, Itapemirim e Submarino. Em geral, os cartões das lojas de vestuário também só podem ser usados na própria rede. O cartão da Leader é uma das exceções, pois também é aceito nas drogarias Descontão e Maria Bijou, por exemplo.

Para obter um cartão de loja, todos exigem identidade, CPF e dois telefones de referência. A maioria ainda pede comprovante de renda e residência. Com os documentos em mãos, em tese, a solicitação do cartão será aceita se a análise de crédito for aprovada. A renda mínima exigida para conseguir o cartão é relativamente baixa, o que explica a forte adesão de consumidores de todas as faixas de renda. Com renda mensal de R$ 150,00 já é possível conseguir alguns cartões.

Ao solicitar o cartão, o consumidor preenche uma ficha de cadastro, O cartão será entregue na própria loja ou na sua casa em até 30 dias. Se o consumidor for aceito no prazo estipulado, o cartão será entregue com o contrato, ou seja, você só fica sabendo das cláusulas de utilização após a contratação do serviço, prática abusiva que a PRO TESTE condena.

Encargos nem sempre informados

O nosso estudo selecionou apenas cartões cuja propaganda diz ser sem anuidade, mas isso não impede que outras taxas sejam cobradas. Um cartão dito sem custo pode sair até por R$ 42,00 anuais, o que é um absurdo. Entenda por quê analisando as outras formas de cobrança.

Taxa de manutenção, utilização ou emissão de fatura — Na hora da contratação, o consumidor quase sempre não é avisado da existência da taxa. Nos panfletos, a informação está nas notas de rodapé, com letras miúdas e de difícil visibilidade. Na prática, o consumidor só fica sabendo quando vai pagar a primeira fatura. Os únicos cartões gratuitos de fato são os do Wal-Mart e do C. Barbosa. Os outros cobram de R$ 1,99 a R$ 3,50 por mês em que o cartão for utilizado, o que implica em um custo anual de até R$ 42,00. Entre as lojas de vestuário só a Marisa cobra: R$ 1,95 por mês.

• Crédito rotativo — É o custo para quem não pagar o total da fatura na data de vencimento. Assim como nos cartões de crédito, as taxas são altíssimas. Encontramos taxas a partir de 9,9% ao mês (CET de 210,4%) a 14,4% (402,5%). O Wal-Mart não especifIca, mas avisa que pode variar de 10% a 15,89%, ou seja, o CET pode ser de até 486,9%. Nas lojas, a C&A cobra a taxa mais alta: 13,4% ao mês (CET de 3522%).

Não perca o controle

Os cartões de loja são parte do marketing das empresas para fidelizar seus clientes. O problema é que nem todo consumidor sabe usá-los e, com isso, pode ter sérios prejuízos no fim do mês. Se você não conseguir pagar a dívida do cartão, o ideal é fugir do crédito rotativo. Para quitar a dívida, você pode, por exemplo, resgatar alguma aplicação. Caso não tenha investimentos, pegue um empréstimo pessoal (leio o artigo sobre o terna nessa edição).

Cartões de créditos compensam mais

Muitos cartões de loja oferecem descontos em alguns produtos para clientes de cartão, mas cuidado para não se enganar. Avalie se o cartão gera de fato alguma vantagem para você. Para isso, compare a economia que ele lhe dá e veja se é superior ao custo que você tem com o cartão. Note que o custo não é irrisório pode chegar a R$ 42 por ano e que você encontra cartões de crédito que, além de ter um custo inferior aos de marca própria, podem ser usados com a mesma finalidade.

Comparando os cartões de loja com os de crédito, não há grandes vantagens se você aderir aos primeiros porque a anuidade tem custo zero. Existem cartões que também são gratuitos, como o Unicard, o Santander Free e o Gold Credit do Amex. Com relação aos juros do crédito rotativo, os cartões de loja não apresentam vantagem, visto que a taxa média vigente nos cartões de crédito é de 10% ao mês (214,5% ao ano), segundo o nosso último estudo de cartões de crédito publicado na D&D n° 11 (dez-07/jan-08).

Avalie antes de comprar

Se você pesquisa preços em vários super mercados antes de comprar e, mesmo com o cartão de determinada rede, vai continuar comprando no supermercado mais barato, o cartão pode ser útil. Ou seja, indo contra o objetivo das redes de lojas e supermercados, você não deve se fidelizar a nenhuma rede. Muitas vezes, os descontos colocados em alguns produtos para clientes que paguem com cartão da rede são compensados em outros produtos mais caros isto é, no final, o desconto é apenas aparente.

Colocando em números, só vale a pena comprar no cartão se o produto do seu interesse (ou o total das compras) estiver no mínimo R$ 3,50 mais barato do que no supermercado concorrente. No caso da com pra parcelada de um produto, se a oferta for de 10 vezes sem juros, só compensa comprá-la se ela estiver pelo menos R$ 35 mais barata que nas lojas concorrentes. Dessa maneira, se você já tem um cartão de crédito convencional, a sua necessidade de um cartão de loja é menor. No caso das lojas é um pouco diferente, porque todas permitem parcelar em até cinco vezes sem juros, vantagem que nem sempre é oferecida com os cartões de crédito.

Propaganda um problema

Em nosso estudo percebemos que houve uma reformulação das propagandas dos cartões de loja, o que demonstra que o nosso trabalho teve resultado. Afinal, depois do teste anterior, pedimos providências aos Órgãos responsáveis pela fiscalização e criticamos duramente a prática do setor de não informar todos os itens dos contratos de modo claro. As mudanças, porém, ainda são insuficientes. Analisamos os sites dos supermercados e a maioria avisa que se trata de cartões sem anuidade, mas só aborda o custo em notas de rodapé com letras miúdas. Tal informação, devido à relevância, deveria estar em lugar de destaque, pois é imprescindível para o consumidor saber quanto terá que pagar pelo uso do produto que lhe está sendo oferecido.

Além de a propaganda acabar iludindo o consumidor, outro problema grave se ve rifica em lojas como a C&A. Elas parcelam em cinco vezes sem juros e em até sete ou oito vezes, mas com juros. Na hora em que o consumidor chega ao caixa com as compras, os vendedores oferecem parcelar em “oito vezes fixas” sem esclarecer que já embutem nessa conta uma taxa de juros, em geral de 80% ao ano. Ou seja, o consumidor acaba sendo induzido ao erro.

Fonte: Pro Teste